Na Sopa de MisoUm dos romances mais impressionantes sobre a misteriosa vida nocturna de Tóquio, muito distante do tradicionalismo das gueixas de Kyoto. Um romance inesquecível sobre a solidão, a falta de identidade e a corrupção moral e cultural…
Nas vésperas do Ano Novo Frank, um estranho turista americano, contrata o jovem Kenji para uma visita guiada à vida nocturna de Tóquio. Aos poucos, o rapaz começa a desconfiar que o seu cliente pode estar envolvido numa série de mortes brutais que atemorizam a cidade.
Kenji desce involuntariamente a um inferno de violência e crueldade inconcebíveis, um pesadelo do qual apenas Jun, a sua namorada de dezasseis anos, o poderá ajudar a despertar, se ele a conseguir manter viva. Uma inquietante história que vai aumentando o suspense até um limite perturbador.
Ruy Murakami, um dos novos mestres do thriller psicológico, questiona com imensa habilidade a relação de amor-ódio entre o Japão e os Estados Unidos, a prostituição juvenil como resposta à necessidade de aceitação, o vazio moral da sociedade moderna ou a solidão num planeta multicultural.
Murakami em dose duplaPara os muitos leitores - fãs, dir-se-ia - de Haruki Murakami em Portugal o título deste texto será enganador porque a dose dupla só lhe pertence por metade. O outro Murakami não é Haruki mas Ryu, um outro inovador das letras japonesas contra o tradicionalismo duma escrita mais linear e intimista que estava esquecido pelas editoras nacionais até a Casa das Letras o recuperar com a edição de um dos seus principais títulos, Na Sopa de Miso.
Não vale a pena confundi-los lá porque são os dois Murakami, mesmo tendo sido entregue a ambos pelos críticos desse mundo fora títulos de nobreza literária pouco habituais, até porque os seus estilos apenas coincidem na modernidade, nada mais.
No que respeita a Ryu Murakami, neste fim de texto porque é um autor a descobrir por quem gosta de thrillers psicológicos. A trama é violenta e conservada num formol de soft-porno que acalma as pulsões de qualquer voyeur mediano. O turista americano é o protagonista do mal enquanto que ao guia japonês está reservado tornar-se o refém da indústria de sexo que a sociedade japonesa oferece aos seus membros.
Bem diferente da prosa de Haruki Murakami, com uma escrita menos inventiva em imagens e metáforas, entre outros artifícios literários, consegue fugir dos lugares comuns a que uma peregrinação pela noite da capital japonesa quase obrigaria. Ryu Murakami entretém-nos apesar de este título ainda não satisfazer por completo quem pretende ter uma alternativa contemporânea ao talento do outro japonês que já tem traduzidos seis livros em Portugal. Principalmente porque ambos sabem dosear o suspense de um modo inigualável e cativam o leitor com as novidades do outro lado do mundo.